O dia começou inquieto. Da inquietude comum a minha mente e
do peso que o dia representa. É Dia Internacional da Mulher.
Que não é só um dia. É emblemático. É representativo. E não
de hoje. Há 23 anos eu me tornava mulher. Minha menstruação veio pela primeira
vez em um 8 de março que, até então, era comemorado apenas com rosas e felicitações.
E, naquela idade, eu também não tinha a dimensão da data.
A realidade hoje é outra. Entre os parabéns e os chocolates
- que eu até reconheço como delicadeza e boa intenção - temos os numerosos
números, mortes que gritam, estatísticas
que pedem socorro.
Chocolates são bons. Adoçam a vida. A intenção foi homenagear,
eu sei. Obrigada! Mas eu quero mais! E vocês sabem disso. Quero mais por mim,
pra mim, pela minha filha, por todas.
As flores deixam o ambiente mais bonito. Alegram o coração e
também consigo ressignificá-las nesse contexto: vêm da nossa capacidade
extraordinária de florescer em meio a tantas dores.
Não dispenso nada. Busco o equilíbrio. Entretanto, porém,
todavia, isso já não me satisfaz.
Eu quero mais. E vocês sabem disso!
Quero a consciência das piadas machistas semanalmente nos
grupos de Whatsapp da família, do trabalho, dos amigos, que muitas vezes a
gente finge não ver pra não se indispor com aquela pessoa querida.
"Mas antes não tinha problema". Agora tem. Muita coisa agora tem problema. Devemos estar atentos e dispostos a evoluir
enquanto pessoas. E se bater a dúvida se é ou não algo ofensivo, pergunte à
mulher mais próxima de você. Sua mãe, irmã, prima, companheira. Elas certamente
te responderão.
Quero a união e o respeito mútuo. Mulheres: não
desqualifiquem a luta da outra. Não meçam nível de feminismo. Olha a bagunça
que isso já está. Encorajem e apóiem outras mulheres.
Mulheres empoderadas, sejam mais que um discurso! Não
adianta assumir grandes cargos, mas criticar a colega que escolheu ficar em
casa para cuidar da família e dos filhos. Tudo isso dá muito trabalho.
Sociedade, seja mais gentil com mulheres em relacionamentos
complicados. A herança do patriarcado é grande e tão longa que, por alguns
momentos, custo a acreditar que algum dia colheremos frutos positivos disso
tudo.
Mulheres se veem presas em relações complicadas por diversas
razões e, a maior delas, é porque sempre foi assim. Cresceram vendo suas mães e
tias apanhando e não conseguem imaginar uma realidade diferente dessa. Quebrar
esse estigma demora mais uma vida.
Eu, muito provavelmente, não verei essa mudança e, talvez, apenas meus netos consigam. É pelo futuro que lutamos.
#8M2019