terça-feira, novembro 17, 2009

O improvável sempre acontece comigo - Parte II

Fechando minhas bisonhices em série, no último dia na cidade resolvi chegar ao aeroporto em cima da hora. Não de propósito. Na verdade, eu consegui errar o horário do voo nas 317 vezes que olhei a passagem. Jurava que era às 19, mas ele partia às 18 horas.
Então, às 17:55 eu fui pra fila do check-in, achando que estava abafando por chegar cedo e o check-in já tava era fechando.

Fui a última a embarcar.

De São Paulo ao Rio fui na poltrona do meio, ladeada por um carioca marombado, com um bafo de cachaça maior do mundo, e por um senhor que não sei a procedência, mas que usava pochete. Preferi me manter calada. Graças a Deus o voo durou seus 40 minutos.
Saí do avião à procura do portão para pegar outro avião direto da Brasília.Não tinha ninguém pra dar informação e eu fui seguindo aquele povo com cara de que sabia onde estava indo. Quando passei pelo detector de metais...”Senhora Nattércia Damasceno, última chamada para o voo...”

Saí correndo. Fui a última a embarcar (de novo).

Já acomodada (também na poltrona do meio), jurava que ia direto para Brasília. Engano meu. O voo fazia escala em Vitória e quase ninguém sabia. A Gol fez tudo caladinha.
Neste voo fui ladeada por Cristina e Dona Julia. Esta, uma senhora calma, sensata e super gentil. Aquela sofria algum distúrbio.

Assim que sentei ela logo me perguntou se eu tinha medo e avião. Respondi que não e ela já foi pedindo desculpas caso chorasse durante o voo, pois estava indo ao velório de uma tia.
Passados alguns minutinhos elas começam a puxar conversa. Cristina perguntou se estava correndo tudo bem no voo e segurou a minha mão. “Olha como eu to gelada”. Daí em diante perdi a mão. A mulher alugou a coitada e apertava a bichihna com toda força. Até entendi. Ela estava nervosa, abalada, mas eu tenho ums certa difuculdade pra lidar com esse tipo de situação. Não sei confortar as pessoas.

Durante a viagem ela contou que já viajou várias vezes, que tinha tomado um rivrotil, que fez medicina e que ganhou um carro blindado. Aliás, ela sempre falava nesse carro blindado que ganhou de presente da mãe. Disse que a irmã mora nos Estado Unidos e que o padastro ou sei lá quem da família é dono de 48 prédios no Rio de Janeiro. Logo, ela queria dizer que a família dela tinha dinheiro, muuuuito dinheiro.

Enquanto essa novela se desenrolava, Dona Júlia tentava confortá-la com revistas do Seicho-no-ie. Pegou até o endereço da moça pra mandar vááários números.
Quando eu já tinha esquecido da minha mão, Cristina diz “Olha, eu não sou sapatão não, viu?! É que hoje em dia todo mundo é outra coisa, né?”
Ri amareladamente.

Aa duas continuaram a conversa de doença, remédios e problemas espirituais e eu literalmente no meio daquilo tudo. De vez em quando uma delas lembrava de mim e dizia “Mas essa ainda tem muita coisa pela frente...”. Eu ria.

Finalmente chega a hora do lanchinho. Aí meu estômago se deu conta que já eram 19 horas e ele só tinha sido abastecido às 9 horas, com um chocolate gelado e um croissant da Paulista. A moça serve um copo de guaraná quente com duas pedras macetas de gelo e um cookie.

Quando olhava para aquele único cookie com as bordas queimadas só conseguia lembrar da cena de um filme típico de sessão da tarde: “Melhor amigo”. Não lembro o nome original, mas era a história de um garoto que se tornava super amigo de um labrador chamado Amarelo. Em um acidente no barco do pai, eles caem no mar e ficam perdidos em uam ilha e a única coisa que tinha para o menino comer eram uns cookies queimados feitos pela paquerinha dele. Mas, para sobreviver, ele tinha que comer. Pensando nisso, encarei a refeição da mesma forma.

Pra quebrar o clima doentio da conversa, contei toda a minha saga até chegar ao avião e falei que estava com fome. A partir daí Dona Júlia se sensibilizou de um jeito que não mediu esforços para me alimentar.

Na hora do outro lanche ela cedeu gentilmente suas quatro bolachas salgadas, recheadas com ervas finas para que eu matasse minha fome. Até as balinhas que a bichinha pegava e me dava.
O voo chegou à Vitória e Cristina desceu. Agradeceu muito nossa companhia e saiu com aquele jeito desconcertante.

Dona Júlia seguiu comigo até Brasília. Fomos conversando sobre a família dela e lamentando a situação da moça que deixara o avião. “Tadinha dessa moça”, dizia ela.

Chegamos à Brasília. Encontrei Sabrina e Fabiana que já estavam lá há séculos e contei toda a aventura.
Na vinda para Rio Branco estávamos em lugares separados. Como o voo estava vazio, conseguimos três poltronas livre e viemos fazendo um balanço da viagem, até que um flatulento filho da mãe soltou um gás destruidor e tirou nossa concentração.

O infeliz que fez isso estava oficialmente morto. Não tinha explicação pra tanto fedor...
Fizemos diversos xingamentos à altura do mau cheiro e continuamos a viagem. Ele ainda soltou outro antes de chegarmos.

Pra fechar, consegui soltar a base do meu aparelho, tentando mastigar uma balinha vagabunda de maçã verde. Com isso, o fio ficou solto o fim de semana inteiro, espetando minha bochecha esquerda até hoje de manhã, hora que consegui ir ao dentista pra consertar.

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