Uma coisa é certa: “se algo está ruim, sempre pode
piorar”. Eu deveria me lembrar mais disso quando me meto em enrascadas causadas
pela minha falta de memória.
Antes ela não me falhava com tanta freqüência, mas hoje não é
nada confiável.
Acontece que depois de um tempo, conhecendo e atendendo
pessoas diferentes, o tico e o teco já não se entendem muito bem.
É nessa hora que a pessoa chega toda sorridente, me
cumprimenta e eu retribuo da mesma maneira, mesmo não lembrando sempre de onde
a conheço ou qual nossa relação.
E hoje pelo telefone não foi diferente. Com esse tal WhatsApp da vida as pessoas adicionam a gente sem, necessariamente, nos
conhecer...
Nessa, a cliente começou a tratar comigo, marcando um
encontro no estúdio. Respondi de pronto, mas só tinha comigo um número
desconhecido, uma foto pouco visível e minha simpatia empreendedora.
Não queria dizer que não lembrava da pessoa, pois pelo tom
da conversa nós já havíamos tido um contato prévio.
Fechei o compromisso sem ter certeza de quem era, mas já com
suspeitas. O problema foi quando eu chequei na agenda e o número da pessoa que
eu achava que estava falando era outro.
E agora, quem era?
Nesse momento você apela para as amigas, porque elas também
têm que compartilhar os perrengues.
Peço pra uma amiga adicionar o contato no WhatsApp e tentar
descobrir o nome da pessoa para que eu pudesse, assim, dormir sossegada.
E quando achávamos que o plano seria perfeito, eis que ela
responde
“Oi, querida, que saudade!”
Aí desabou tudo.
O contato agora confundira minha amiga e arrematara com
“Hoje mesmo pensei em você”
Agora éramos duas perdidas e uma identidade desconhecida.
Ríamos sem parar e eu só conseguia lembrar do “Grande Edgar”
– uma das minhas crônicas preferidas do Luis Fernando Verissimo.
No fim das contas confirmei minha suspeita e minha amiga,
que havia sido confundida com a dentista da moça, desfez o mal entendido.
Entre mortos e feridos, salvaram-se todos. E eu ainda espero
fechar o ensaio.